quarta-feira, 23 de junho de 2010

Inimiga invisível

Eu decido que vou ser saudável. Pego a lista telefônica para procurar o número de alguma academia aqui perto. Chega de sedentarismo. Depois, analiso o cardápio da reeducação alimentar que a nutricionista preparou há uma ano, quando eu estava no auge da minha doença.

Digo a mim mesma que estou fazendo a coisa certa e que vou ser feliz, bonita, viva.

Mas a minha inimiga invisível consegue me convencer de que ser saudável é uma perda de tempo. Ela sussurra que serei gorda para sempre se eu parar de recorrer a ela, porque tenho tendência a isso.

Em um gesto quase solidário, ela vem até mim e me acolhe em um entusiasmado (mas frio) abraço, dizendo que me perdoa mesmo depois de eu ter tentado abandoná-la. Ela é a pior inimiga que alguém poderia ter, porque finge que é a melhor amiga.


Eu choro, ela não liga.

No fundo, sou apenas uma criança mal-crescida que precisa de ajuda.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Pessimismo

O telefone toca às 3 horas da manhã. Acordo de súbito e prendo a respiração, meio incrédula. Acredito em ditados populares, e por isso sei que notícias ruins só chegam de madrugada. Abro os olhos, mas meu gesto não faz diferença alguma.

Cenas horríveis tomam conta da minha cabeça. Será que aconteceu algo com a minha avó, que já está muito velha? Ou meu tio enfermo teve uma piora sinistra?

E agora? Atendo, ou deixo que outra pessoa faça tal serviço doloroso?

Sou covarde e acabo escolhendo a segunda opção. Uma voz interna me diz que se eu atender ficarei estupefata, horrorizada. Não. Hoje não quero um sentimento forte. Se for pra sentir algo ruim, que seja a minha habitual apatia. Pelo menos estou acostumada ao nada.

Alguém atende. Gritos. Era uma banalidade.