sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Finalmente

Chegou a sexta-feira.
Pode até ser inútil da minha parte - afinal, vou prestar vestibular esse ano - mas devo dizer que não há nada mais chato e cansativo do que uma semana de estudos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Abstrato

Acredito que uma das piores coisas do mundo é não conseguir se expressar. Isso acontece comigo desde que me entendo por gente, o que me leva a achar que, talvez, eu pense diferente do resto das pessoas. Já aconteceu inúmeras vezes: invento de abrir minha boca e um debate se inicia. Um debate no qual eu estou "defendendo" um princípio que não é o meu.

Desisti de conversar sobre certos assuntos, porque sei que as pessoas não me entenderão. Por mais que eu tente explicar o meu ponto de vista, serei mal sucedida e todos farão questão de atirar pedras. Por isso, tentei começar a me expressar sozinha. Mas também não deu certo.

Comecei com textos escritos em um pequeno caderno de papel reciclado, que chamo de diário. Não funcionou porque minhas indagações simplesmente se recusam a metamorfosearem em palavras. Não sei desenhar, por isso a pintura está fora de questão. Não toco nenhum instrumento, nem sei trabalhar com barro.

E é por isso que voltamos à linha inicial dessa postagem. Definitivamente, uma das piores coisas do mundo é ter que enjaular sentimentos que anseiam pela liberdade.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ana e o Mar

E lá estava Ana novamente, em sua impecável rotina: Sempre ia sentar-se à beira do mar, logo cedo, todos os dias pela manhã. Seu hábito fazia com que ela sentisse menos a tristeza avassaladora que o mundo escondia em cada uma de suas frestas. Mas Ana sempre as encontrava. Esse era o problema. A melancolia sabia se esconder de todos, mas não era párea para o olhar astuto daquela jovem.

A pequena Ana estava completando quinze anos de idade naquele dia. Não quis festa nem presentes; sabia que não os merecia. E além disso, não havia motivos para alimentar a falsidade das pessoas ao fazê-las fingir que importavam-se com algo tão banal. Ela já estava acostumada à solidão, então para quê tentar mudar?

O mar era a única coisa que tinha coragem de gostar de Ana; ou melhor: de amá-la. Ela sabia disso. Sempre soubera. Às vezes desejava ser uma lagoa. Se fosse, seria muito mais viável que aquela história de amor se concretizasse. Mas não passava de uma menina; pequena, frágil e leve como uma borboleta.

Ana deitou-se à beira do mar, que começou a massagear seus pés de neve. Ela podia ouvi-lo sussurrando palavras engraçadas de esperança, o que a fazia sorrir. Só ele a fazia sorrir daquele jeito despreocupado. Toda a sua timidez dissipava-se.

O mar, talvez, fosse o único lugar onde não houvesse as frestinhas dentro das quais a tristeza gostava de se esconder. E era provavelmente por tal motivo que Ana se sentia tão bem ao estar em sua presença.

Naquele dia, ela finalmente se entregaria completamente ao seu amado.

Enfiou a mão no bolso do vestido azul de algodão, de onde tirou várias bolinhas brancas. Em seguida, entrou na água o mais lentamente que pôde, aproveitando o momento. Nadou despreocupadamente até não conseguir mais encontrar chão sob os pés. Depois, mergulhou por completo, segurando firmemente os comprimidos na mão fechada.

Era chegada a hora. O amor da sua morte a queria, e ela iria doar-se a ele.

Colocou um comprimido na boca e mergulhou a cabeça ruiva, à fim de sugar um pouco de água salgada para lhe ajudar a engolir. Repetiu o ato várias vezes, até as bolinhas acabarem.

Sentiu uma paz que nunca havia sentido antes. Abriu os braços para o céu, respirou fundo. Sorriu. Começou a girar em torno de si mesma, imaginando-se em um carrossel de parque de diversão. Se aquilo era morrer, então a morte era a melhor coisa que já experimentara. Melhor do que as drogas, e até melhor do que emagrecer.

Ana brincou sozinha. Hora fingia ser um peixe, hora uma sereia. Após certo tempo ela desistiu da atitude infantil e começou a dialogar com o amado. Proferiu palavras bonitas, e jurou a ele que seria sua para sempre. O mar, radiante de felicidade, respondia com suaves ondas brincalhonas.