quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Perdida

Eu estava no controle. Ou pensava que estava. Eu tinha tanta confiança, que poderia sair gritando para céus e terras ouvirem: "Oi, estou no topo do mundo. Posso ver todos vocês daqui de cima. Venham e juntem-se a mim!".

Mas eu cai. Absurdamente. De uma hora para a outra.

Senti o gosto azedo da perda da auto-estima. Senti a garganta doer. Senti a culpa me apunhalar o peito. Senti frio, muito frio. Senti solidão. Senti o nada. Senti meus fantasmas se rebelarem contra mim. Senti tudo escurecer.

A tempestade invadiu meu céu ensolarado.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Stop.

Eu saio de casa, vou ao cinema, escolho o filme, compro o ingresso.

Na fila, olho para o casal ao lado. Tão felizes que me dá inveja. Ela segura um grande saco da pipoca mais deliciosa do mundo. Ele leva dois refrigerantes nas mãos. Tenho certeza de que terão uma noite maravilhosa.

Não tenho acompanhante, nem comida, mas quero ter a felicidade.

Olho para a fila da pipoca. Pequena. Tentadora. Preços bons. Chicletes, refrigerante, mentos, pastilha, chocolate. A vontade cresce. A boca saliva. A língua quase sente o gosto. O estômago se prepara para a digestão.

Mas algo dentro de mim diz Stop. Não posso.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Imaginário

Eu quero abrir a janela e respirar o mar salgado. O vento irá bagunçar o meu cabelo, e o barulho das ondas penetrará meus ouvidos. Depois me sentirei livre para sair e correr entre as flores da fazenda. Não precisarei me preocupar com as cobras: acho que ainda não estou fora da cidade.

Armarei uma rede com vista exclusiva para as montanhas banhadas em neve. Não fará frio. Então me deitarei para cochilar, e em pouco tempo não será mais possível diferenciar a realidade da imaginação.

Eu vou sentar sob a árvore mais alta do mundo, vou correr até o Japão, vou deixar pegadas na areia, vou rir, vou chorar de alegria, vou pular de um penhasco. Vou voar.

E, por último, vou descobrir que não vale a pena viver no mundo dos sonhos.